segunda-feira, 22 de março de 2010

kieslowski tem glicerina

Krzysztof Kieslowski é um cineasta polonês.

Fora do continente americano, seus filmes foram apreciados e muito elogiados pela impecável forma de se contar uma história, filmes que cativam do inicio ao fim com seus extraordinários acontecimentos e reviravoltas nas vidas de pessoas normais.

Mas, antes de fotografar toda a beleza fictícia dos laços humanos e levar a condição das relações ao absurdo e ao improvável, Kieslowski era documentarista.
Um documentarista, onde captava toda a verdade da vida, todo traço de sua amada Polônia, onde queimava a película de 16mm da sua câmera para mostrar tipos interessantes que habitavam nesse país.

É aqui que somos surpreendidos novamente.

Por que esse diretor polonês simplesmente troca a interessante realidade dos documentários pela falsa verdade dos longas-metragens? A resposta veio de um livro de Slavoj Zizek, um filósofo e psicanalista, que tem andando ultimamente pelo instituto de Sociologia da Universidade da Liubliana, lá na Eslovênia. ( ele ja tentou se candidatar para o presidente da república em 1990, no mesmo país. )

A resposta foi esclarecida com as palavras do próprio cineasta, que faz uma citação no livro:

"Nem tudo por ser descrito. É esse o grande problema do documentário. Se estou a fazer um filme sobre o amor, não posso entrar num quarto se pessoas reais estiverem lá a fazer amor. Foi provavelmente essa a razão que me levou a mudar para os filmes de longa-metragem. Ai não há problema. Se preciso de um par a fazer amor na cama, não custa nada. Posso mesmo comprar Glicerina, pôr-lhe umas gotas nos olhos e ela chora. Consegui algumas vezes filmar lágrimas reais. É algo completamente diferente. Mas agora tenho glicerina. Tenho pavor das lágrimas verdadeiras. Com efeito, nem sequer sei se tenho o direito de as fotografar. Nessas alturas sinto-me como alguém que se vê num reino cujo acesso é, de fato, proibido. Esta foi a razão principa porque fugi dos documentários"

Descanse em paz, Kieslowski.

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